Jogos de videogames que fizeram muito sucesso e que tiveram por traz a participação de estrelas roqueiras em suas trilhas sonoras
Por: Caio Ramos
Games e rock têm uma relação antiga. Já no início dos anos 80, apesar das limitações técnicas, o console ATARI 2600 já apresentava jogos em que o rock era ponto central de suas trilhas sonoras. O exemplo mais óbvio é “Journey Escape”, de 1982. O game foi baseado no álbum “Escape”, da banda Journey, e traz uma versão da música do sucesso “Don’t Stop Believin”.
Mais para o final da década, com o Atari 2600 já no final da vida, o game “California Games” trazia uma versão de “Louie, Louie”, clássico absoluto da garage band estadunidense, The Kingsmen.
Com o avanço tecnológico e a consequente melhoria dos elementos de áudio, as colaborações entre o mundo do rock e o universo dos games cresceram muito. Os consoles da próxima geração, os de 8 bits, trouxeram novidades interessantes. Na extensa biblioteca do NES (popularmente conhecido no Brasil como “Nintendinho”), os destaques foram “Snake Rattle ’n’ Roll”, de 1990, cuja trilha era baseada no rockabilly e na música “Shake, Rattle and Roll”, gravada originalmente por Bill Haley & His Comets.
Vários outros games do NES tiveram trilhas inspiradas no rock, ainda que não tão explicitamente. São exemplos os jogos da série “Castlevania”, com um claro apelo para o heavy metal, e “Contra”, que tinha uma trilha sonora baseada em hard rock.
Jogo Castlevania:
Jogo Contra:
O grande salto da relação entre rock e games, no entanto, se deu nos anos 90, com a próxima geração de consoles de 16 bits. Isso foi especialmente verdadeiro para o Super Nintendo, que era equipado com um chip de áudio revolucionário e que permitia os jogos terem sons e músicas muito mais realistas do que aquelas de seu concorrente direto, o Mega Drive.
Aquela era a década em que a garotada se espremia nos fliperamas para jogar o game de luta “Street Fighter 2”, e esses consoles lançaram suas próprias versões. Os donos de Mega Drive, no entanto, ficaram decepcionados, pois a trilha sonora e os efeitos da versão do console ficaram muito atrás do original. Já aqueles que tinham um Super Nintendo puderam curtir o game com um áudio muito melhor. E por falar nisso, a trilha sonora desse game é uma das que mais ganharam (e ganham até hoje) covers de guitarristas.
E foi justamente o Super Nintendo que levou a um dos casos mais curiosos de todos os tempos sobre a ligação entre rock e games. Imagine uma produtora que decide fazer um “jogo de corrida” bem genérico mesmo, sem grandes expectativas, e que enfrentou vários problemas de produção, especialmente em relação à trilha sonora, que acabou sendo composta em cerca de uma semana. Esse foi o caso de “Top Gear”. O game acabou se tornando um hit em um único país, o Brasil. E ao longo dos anos, vários guitarristas brasileiros fizeram covers de sua excelente trilha sonora, que poderia passar por alguma música do Helloween.
O compositor da trilha game, o escocês Barry Leitch, tornou-se uma celebridade no mundo de games brasileiro, já tendo vindo ao País em eventos como o Video Games Live e a Top Gear World Tour. Em agradecimento, Leitch ostenta na frente de sua casa a bandeira brasileira, do lado das bandeiras da Escócia e dos Estados Unidos, onde mora.
Um exemplo de cover de Top Gear por Cleiton Alves:
A era do CD
Apesar dos avanços inegáveis trazidos pelo Super Nintendo, foi o lançamento do PlayStation, da Sony, que representou um divisor de águas no universo game. O novo console apresentava uma mídia em CD, o que permitia a produção de jogos com músicas e vozes reais. Entre os destaques estavam os games de skate da série “Tony Hawk”, que apostavam em clássicos do punk rock, de bandas como Dead Kennedys e The Vandals.
Tony Hawk Pro Skater 4, para o PlayStation 1:
Com as próximas gerações de consoles e o aumento da capacidade gráfica, os games se tornaram mais complexos, permitindo novos caminhos para a sua ligação com o rock. O PlayStation 2, console de sexta geração com mídias em DVD, foi o pioneiro a aproveitar essas novas possibilidades. Ali nascia a série “Guitar Hero”, com um controle em formato de guitarra, em que o jogador precisava apertar as teclas corretas para “tocar” as músicas, acompanhando uma banda virtual.
O repertório do Guitar Hero incluía desde músicas dos anos 60 até sucessos da época, passando por todo o hard rock e heavy metal dos anos 70, 80 e 90. Guns n’ Roses, Metallica, Iron Maiden, Suicidal Tendencies, Slayer, Sum 41, Deep Purple e Black Sabbath eram umas das bandas que faziam parte do jogo. Além disso, o Aerosmith ganhou uma versão própria do game.
“Guitar Hero” foi um sucesso global, e ganhou várias continuações, lançadas para vários consoles.
Uma curiosidade. Segundo a lenda, durante a edição da música “And Justice for All”, do Metallica, James Hetfield e Lars Ulrich teriam excluído as gravações do baixo, por supostamente não confiarem em Jason Newsted, que havia acabado de entrar para a banda. Assim, na versão de “One” do “Guitar Hero 3”, o baixista não toca.
Aqui dá para ver “One”, de “Guitar Hero 3”. O baixista não mexe os dedos:
A série “Guitar Hero” abriria espaço para games ainda mais imersivos, como é o caso de “Rock Band”. Aqui, não se podia apenas emular a guitarra, mas também o baixo, vocais e a bateria. A série teve várias continuações e edições especiais, entre as quais destaco a dos Beatles, com instrumentos otimizados.
“Twist and Shout”, na versão de “Rock Band”:
Músicos nos games
Vimos que se o PlayStation 1 permitiu colocar músicas e vozes nos games, os consoles de sexta geração como o PlayStation 2 levaram o jogo mais além (desculpem o trocadilho), sendo capaz de rodar games mais complexos. A série “Grand Theft Auto” – ou simplesmente “GTA” – foi um dos maiores exemplos dessa evolução. Nela, o jogador controla personagens que precisam fazer missões criminosas, em reproduções digitais de cidades como Miami, Nova York, Las Vegas, San Francisco e Los Angeles. Para isso, eles podem roubar uma infinidade de veículos. E em cada cidade da série, há várias emissoras de rádios que podem ser ouvidas, cada uma voltada para estilos de músicas diferentes.
“GTA 3”, o primeiro game da série a apresentar o sistema de rádios, não tinha emissoras voltadas para o rock. Mas o próximo, “GTA San Andreas”, contava com emissoras voltadas para rap, hip-hop, hard rock, grunge (o game se passava no início dos anos 90), soul, reggae e techno. Entre as bandas e grupos, estavam Soundgarden, Public Enemy, Rage Against the Machine, Guns N’ Roses, Boston e Lynyrd Skynyrd. O locutor da rádio de hard rock, “K-DST”, era dublado por nada mais, nada menos que o vocalista Axl Rose.
Os games seguintes de “GTA” continuaram com o mesmo sistema de rádios. Em “GTA IV” e seus spin offs “The Lost and Damned” e “The Ballad of Gay Tony”, que se passavam em uma cópia de Nova York, era possível ouvir Iggy Pop como o dj Da rádio de rock clássico “Liberty Rock Radio 97.8”, Juliette Lewis apresentando indie rock na rádio “Radio Broker” e Max Cavalera (sim, o próprio!) detonando com músicas de trash e death na LCHC.
Havia também emissores voltadas ao jazz, reggae/dub, soul e rap. A lista de bandas e músicos incluía Sepultura, Agnostic Front, Sick of It All, Miles Davis, Duke Ellington, David Bowie, Black Sabbath, The Who, ZZ Top, The Black Keys e Queen.
Há um game, no entanto, em que vários músicos emprestaram suas figuras e estética, e não apenas suas vozes: Brütal Legend, do PlayStation 3. O enredo é simples e divertido. O jogador controla um rodie que é levado a uma terra dominada pelo metal. Ao longo do game, músicos como Ozzy Osbourne, Lemmy e Rob Halford dão suas caras. Na trilha, clássicos de Judas Priest, Black Sabbath, Motörhead e Tenacious D estão presentes no jogo.
Ozzy Osbourne em Brütal Legend:
Hoje, com o avanço tecnolólgico e a sua variedade sonora, a Morcegão FM trouxe esse histórico interessante para relembrar e conhecer as trilhas dos videogames que fizeram parte da infância e adolescência de muitas pessoas. Aliás, nada mal para ver o que virou atualmente os primórdios de um tipo de mídia que começou sua parceria com o rock com uma versão em áudio de apenas dois canais mono com uma síntese simples de uma música do Journey.
Fantástica matéria!
Muito massa!
Parabéns!
ótima pauta !
Ótima matéria, quando leio isso penso não tem como deixar de lembrar de Gran Turismo. A série não só revolucionou o gênero de corrida, mas também apresentou uma trilha sonora que marcou gerações. Bandas que talvez passassem despercebidas em rádios tradicionais acabaram ganhando fãs fiéis porque estavam na playlist de quem passava horas pilotando na tela. Nas versões mais recentes, até músicas clássicas foram incorporadas, mostrando como a franquia entendeu a importância da música como parte da imersão.
Vale citar nomes como Daiki Kasho, que praticamente se especializou em criar trilhas para a série, com músicas que hoje são lembradas tanto quanto os carros e circuitos. Isso mostra como um jogo pode transformar um compositor em referência dentro de uma cultura específica.
Não foi só Gran Turismo que fez isso. Quem viveu a era do Need for Speed: Underground lembra do impacto que bandas como Queens of the Stone Age, Lostprophets e STP tiveram. Eram sons pesados, cheios de energia, que se encaixavam perfeitamente no clima de corridas urbanas ilegais, neon e tuning. Para muitos jovens da época, foi a porta de entrada para conhecer novas bandas de rock, punk e derivados.
Esses jogos funcionaram como verdadeiros curadores musicais. Antes mesmo do streaming dominar, eram eles que ajudavam a criar trilhas sonoras para a vida real de quem jogava. Se hoje falamos tanto em playlists personalizadas, vale lembrar que Gran Turismo e Need for Speed já faziam esse trabalho — só que de um jeito muito mais visceral, conectando música e velocidade em memórias que ficaram..
como de maõs dadas com o tempo……é detalhe nunca morrem.
ainda na minha adolescência como curtia o game e o rock……
….hoje o game nem tanto, mas o rock, esse sim sempre batendo no peito igual ao um coração. sempre vivo
viva a vida, viva a musica e viva o rock