Por: Alexandro Cruz
Recentemente, fomos impactados com o anúncio de Geddy Lee e Alex Lifeson sobre o retorno aos palcos do RUSH para shows na América do Norte. A informação causou espanto e, principalmente, alegria entre os fãs, apesar de duvidarem sobre a baterista alemã, Anika Nilles, nomeada para substituir o lendário Neil Peart, que faleceu em 2020.
Inúmeras publicações nas redes sociais eram sobre a volta dos músicos restantes do RUSH. A notícia gerou uma onda incrível de comentários e interações entre as pessoas.
Porém, gostaria de trazer uma visão sobre o fato, assim como de tantos outros retornos ou mesmo daquelas voltas dos que não foram, ocorridas com inúmeras bandas ao redor do mundo. Parece que essas despedidas têm sido adiadas, por causa das súplicas de fãs que fazem campanhas para que os artistas continuem na estrada.
Esse tipo de movimentação popular tem me deixado um tanto angustiado, já que aparenta mostrar que nada de novo possa surgir nos dias atuais para causar a mesma impressão e gerar o mesmo tipo de devoção entre as pessoas que ocorre com os músicos que estão há anos na estrada.
Hoje, sinceramente e desculpe se ofender quem achar o contrário, parece que a música se tornou algo um tanto descartável. Que surge já com um rótulo de validade curta.
Talvez eu possa estar confundindo. Sei lá. Mas, hoje, não consigo encontrar nas gerações recentes comentários sobre aquela tal música que faz parte de sua trilha sonora de vida. Também não ouço falarem de uma canção que faz parte de um acontecimento tão importante e inesquecível, assim como citar sobre uma composição que gera arrepio quando são tocados os primeiros acordes, por trazer um lembrança marcante.
Será que isso tem a ver com as toneladas de informações que recebemos diariamente? Uma questão é fato, somos alvos fáceis da rajada dos geradores de notícias, informação e, claro, músicas que surgem de todos os cantos e a todo momento à nossa frente.
A obra da autora geração millennial, Jenny Od ell: “Como Não Fazer Nada: Resistindo à Economia da Atenção“, pode criar uma boa discussão sobre esse momento. Jenny traz para a nossa realidade o que vivemos diante de uma conectividade tão acelerada e constante em nossas vidas. O seu livro chama a atenção sobre o quanto a gente se sente ansioso por não fazer o suficiente e, ao mesmo tempo, em que nos sentimos mal por criar um comprometimento com muitas coisas ao mesmo tempo e que acabamos não fazendo nada.
Ou seja, em que horas a gente faz aquela pausa para respirar e fazer algo com calma nos dias de hoje?

Diante desse cenário acelerado, percebemos que a cultura em diversos aspectos está bem envolvida nesse contexto massivo de informação. É óbvio que a internet hoje nos oferece uma abundância de opções e isso tem acabado nos levando à superficialidade da quantidade de mensagens recebidas. Com isso, a música – que deveria ser um momento de prazer -, também acaba se tornando uma distração de fundo, enquanto realizamos inúmeras outras atividades ao mesmo tempo, como lidar com as redes sociais, cozinhar ou trabalhar. Essa atitude faz com que a nossa capacidade de fazer uma “escuta profunda” musical, prestando atenção aos detalhes e nuances do que cada composição promova, diminua e desapareça de maneira rápida das nossas mentes.
O estudo dos sociólogos, Pedro Henrique Moschetta e Jorge Vieira, “Música na era do streaming: curadoria e descoberta musical no Spotify”, feito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é um exemplo do que acabei de mencionar. A tese mostra o impacto da internet no apego musical e indica que a facilidade de acesso e o excesso de opções proporcionados pelo streaming fragmentaram a experiência de audição das pessoas. Além disso, a pesquisa indica que a cultura das playlists e a rapidez com que novas músicas são descobertas fazem com que os ouvintes tenham uma atenção mais curta, favorecendo canções individuais em vez de álbuns inteiros.
Com isso, parece que a avalanche diária de acesso à informação tem nos afetado na maneira de ter algum tipo de sentimento musical. Vale destacar que, incrivelmente e como tenho perecebido, parece que as bandas que surgiram antes ou bem antes da era da rede digital conseguiram fixar suas obras sonoras nas mentes e corações das pessoas. E, infelizmente, essas fixações musicais ainda indicam que se tornaram insubstituíveis.
Outro fato que chama a atenção é ver a nova geração proporcionar milhões de audiências com as obras antigas, produzidas naquele período orgânico do vínil e da fita K7, e elas se fixando mais do que as composições criadas atualmente. A explicação para isso? Ainda parece um tanto difícil de chegar obter.
Hoje, volta e meia, temos presenciado anúncios de músicos que dizem não querer mais fazer parte daquele ciclo de vida tão efervescente que o mainstream causa. Já que são dedicações profissionais incansáveis e até mesmo impressionantes para satisfazer o prazer de seus fãs. Isso tem gerado sérios problemas de saúde a muitos artistas o qual não damos conta ou sabemos. O lendário Ozzy Osbourne pode ser um grande exemplo, já que ele morreu uma semana após a sua última apresentação ao vivo. Ou seja, morreu trabalhando literalmente para atender a seus fãs.
Esse estilo de vida cultural musical não é para qualquer um. Mas, os Rolling Stones podem ser considerados a curva fora da reta, devido a faixa etária de mais de 80 anos de seus integrantes e, mesmo assim, ainda rodam o mundo fazendo shows com mais de 3h de duração. Mas, será realmente que eles ainda se sentem bem em enfrentar essa maratona? A única coisa que podemos dizer é que, nós, meros mortais apreciadores, não acompanhamos os bastidores desses artistas britânicos e que, por isso, achamos que está tudo bem.
Depois dessa breve reflexão, gostaria de defender, e muito, que precisamos parar e rever sobre a necessidade de uma nova leva de produções que possam se fixar em nossas mentes e corações. Isso porque, cada geração precisa ter a sua trilha sonora de vida, por ser essencial para continuar a caminhada do nosso dia a dia e da coisas novas no mundo.
Já passamos por trilhas de ídolos como Chuck Berry, B.B. King, Queen, Elvis, The Beatles, Led Zeppelin, Hendrix, Metallica, Iron Maiden, Depeche Mode e tantos outros. Não é possível que não possa surgir algo novo e que se torne duradouro para mexer, de verdade, com os nossos corações e almas, principalmente com os senimentos dos mais novos?
O mesmo estudo “Música na era do streaming: curadoria e descoberta musical no Spotify” revela que a curadoria algorítmica, apesar de ser constantemente aprimorada, não substitui a curadoria humana devido à sua maior previsibilidade e imprecisão.

Com essa análise científica, acredito que ainda seja possível termos a esperança de voltar a criar alguns cotidianos de maneira orgânica e bem humana, para assim – quem sabe? – retornarmos a parar, respirar, ouvir e ter aqueles momentos que geram boas emoções duradouras, proveniente do que só as músicas conseguem nos proporcionar. Assim espero.
salve salve cruz. que texto hein mano. li até o final
mas sim Brow, eu mesmo no auge dos meus 5.2 turbo, confesso que não sou muito adepto da procura por novos artistas. curto sim todos essas acima que você citou e muita mais assim como dire straits, the police, supertramp e por vai, aqui intitulados por mim como os dinossauros do rock. eu tenho em minha biblioteca no spotify uma imensa play de musica que faço com o maior gosto. afinal, gosto de estar com os brothers que curtim rock como eu ouvindo os classicos. mas gosto sim do som diferente e embora nao procuro como falei no inicio do bate papo…ouço claro a morcegaofm pra interado com as novidades…
parabens sempre ai pelo trabalho. fico feliz aqui por tudo isso.
viva a vida, viva a musica e viva o rock ♫
Parabéns!
Realmente, neste mundo atual, imediatista, de até abreviar palavras para terem o falso sentimento de não estarem perdendo tempo, falta aquilo que nis emociona, que faz a gente vibrar… e como você disse, ter emoções duradouras… simples assim.
Obrigado pela reflexão que seu texto trás pra gente.
Salve, Alex,
Fui com você até o fim — o texto é longo, mas muito gostoso de ler.
Você tocou num ponto essencial: a falta de novas trilhas sonoras que fiquem para sempre.
Acho que isso tem tudo a ver com o que você chamou de avalanche de informação — e eu chamaria de “ruptura de eras”.
A música já passou por grandes revoluções, imagine a boa nova:
Quando pôde ser gravada — “sua arte agora pode ser guardada para sempre.”
Quando o rádio surgiu — “agora sua voz pode ser ouvida em todo o país.”
Quando veio a TV — “agora podem ver você cantando.”
Depois, a internet: todo mundo virou rádio e TV.
E agora, com a IA, todo mundo é tudo: músico, produtor, roteirista, cinegrafista, editor, designer, ilustrador, dublador… e, ao mesmo tempo, ninguém é inteiramente nada.
Acho que essa é a grande confusão do nosso tempo.
Criam tanto que perdem aquela escuta profunda ‘do que você fala e para quem?’.
A música foi na onda. Tanto é criado e nada permanece.
Talvez o caminho esteja naquilo que você também sugere: em voltar a sentir.
Em vez de “projetos gigantescos”, talvez seja a hora dos “projetos de quintal” — artistas criando seus próprios ecossistemas locais, tocando por prazer, sem pretensão.
Para nós, da Morcegão FM, nada muda: a música continua curando, alegrando e transformando o jeito como você vive no mundo.